A cachaçaria Reserva do Zito, localizada no município de Passagem Franca, foi palco de visita técnica promovida pelo Sebrae no Maranhão, reunindo produtores de cachaça de Santo Antônio dos Lopes para conhecer o modo de produção e a trajetória de crescimento do empreendimento, que é uma das principais referências estaduais na produção de cachaça artesanal no estado.

Realizada durante a ExpoSertão, no último sábado (16), a ação teve como resultado o estabelecimento de bases para fortalecer a cadeia produtiva de cachaça, promovendo intercâmbio de experiências e trocas sobre práticas produtivas, com impacto positivo para estruturação da atividade e valorização da produção de cachaça no Maranhão.
Detentor de cerca de 450 alambiques espalhados pelas regiões produtoras do estado, atualmente, o Maranhão se destaca na produção de bebidas artesanais, conforme dados do Sindicato das Indústrias de Bebidas em Geral do Estado do Maranhão – Sindibebidas. No entanto, apenas 12 dessas cachaçarias estão devidamente registradas, segundo o Anuário da Cachaça 2024, publicação de responsabilidade do Ministério da Agricultura e Pesca – MAPA. Essa realidade revela o principal desafio desse segmento que, embora tradicional e com uma produção anual que chega a 15 milhões de litros, ainda opera, em grande parte, na informalidade.
Durante a visita, além de conhecer a trajetória da Reserva do Zito, com mais 70 anos de existência, os produtores compartilharam vivências e conheceram iniciativas que buscam incentivar a legalização de seus empreendimentos. A produção artesanal, feita da cana-de-açúcar, é um símbolo da cultura maranhense, e a formalização desses produtores é fundamental para preservar essa tradição e dar à cachaça artesanal maranhense o devido reconhecimento.

“Nosso objetivo é fazer com esses produtores, que atualmente produzem sua cachaça de forma rústica, despadronizada e sem registro, venham a formalizar suas unidades produtoras, a partir dessa experiência de visita a uma pequena fábrica registrada, que trabalha dentro dos controles de qualidade, atendendo à legislação”, explicou a consultora credenciada do Sebrae, Silvia Almeida, que acompanha grupos de produtores do Sertão Maranhense, onde se concentra o maior volume de produção no Maranhão.
-
Cachaça em Santo Antônio dos Lopes
Atualmente 25 produtores de cachaça de Santo Antônio dos Lopes estão sendo atendidos através do programa “Juntos pelo Agro”, uma parceria nacional, que une Sebrae à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA) e suas federações e sindicatos rurais ofertando soluções de desenvolvimento técnico da atividade rural e gestão das propriedades rurais. Sendo uma ponte para o fortalecimento da atividade, o programa garante suporte técnico e orientações para que os alambiques possam obter o registro e a certificação para funcionamento e comercialização exigidos no país.
Empenhado em transformar a cachaça de Santo Antônio dos Lopes na melhor do Maranhão, o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do município, Elias Bisneto, liderou os visitantes. “Nesta visita técnica à Reserva do Zito, reunimos produtores que há muito tempo estão tentando conquistar sua certificação e melhorar seus produtos”, avaliou ele.
Entre os produtores estava Francisco de Oliveira Aguiar, 50 anos. Há seis anos, ele produz destilados de qualidade, sendo proprietário da Cachaça Aguiar e ganhador do prêmio de Melhor Cachaça, em premiação organizada pela prefeitura de Santo dos Lopes.
Atualmente, Aguiar produz 24 mil litros de cachaça por ano. Na visita, ele encontrou diversos insights para aumentar sua produção e aprimorar o produto, que já tem destaque no mercado. “Essa é a primeira vez que conheço um engenho moderno. Chamou minha atenção o curto tempo para produção, que é bem maior que a nossa”, pontuou ele.

Também na visita estiveram os produtores Antônio Calbir Lima, que trabalha no ramo há 25 anos, produzindo hoje cerca de 30 mil litros de cachaça/ano. E Dieldo Alves, com uma trajetória de cinco anos, além de Ualacy Raposo, que carrega a responsabilidade de manter vivo um alambique da família, que já atravessa várias gerações. “A visita foi uma ótima experiência e, com certeza, iremos tirar bons frutos desse momento”, frisou Raposo.
Reserva do Zito
Produzida há mais de 70 anos, a partir de uma tradição iniciada pelo empresário e destilador José Rufino da Silva, conhecido como Zito, a cachaça é produzida em um engenho, hoje administrado pelos sucessores. Guardiões da responsabilidade de manter viva a tradição familiar, os filhos se orgulham da oferta de rótulos marcados pela originalidade de aromas e sabores incomparáveis, entre os quais as cachaças Ipê, Carvalho e Prata.
Esse espírito é a base para conquistas como a premiação obtida pelo rótulo Prata, reconhecido, em 2019, com a medalha de ouro no concurso Spirits Selection by Concours Mondial de Bruxelles. O concurso tem renome internacional, ao avaliar e premiar bebidas “espirituosas” em todo o mundo. Trata-se de um evento de referência no setor, reconhecendo a excelência em categorias como whisky, conhaque, licores e gins. O objetivo principal é destacar os melhores destilados e orientar os consumidores nas suas escolhas.
Da tradição da arte alambiqueira, passada de geração a geração, à modernização dos equipamentos e da estrutura física das instalações e da adoção de práticas de produção sustentáveis, a Reserva do Zito serve de inspiração para outros alambiques que ainda funcionam na informalidade. Entre as razões, estão: a qualidade do produto, cuidados com as normas e questões técnicas ligadas ao processo produtivo e a própria gestão do negócio. “Compartilhar essa experiência com outros produtores é muito gratificante. Temos muito orgulho da história construída por nosso pai”, disse Geraldo Silva, administrador do engenho, filho de Zito.

Tradição que supera limites territoriais – Ao longo dos anos, as cachaças produzidas no Engenho do Zito se tornaram conhecidas no país, especialmente pela qualidade. O engenho cresceu e agregou a força produtiva de dois dos filhos do fundador. Sob a direção das gerações mais novas, foram promovidas algumas mudanças estruturais e na identidade visual da marca, sempre priorizando a tradição de qualidade dos produtos, sem deixar de valorizar o conhecimento passado pelo pai desde os primeiros anos de infância até os dias de hoje.
O contraste entre a produção à moda antiga e a modernização dos equipamentos encontrados na Reserva do Zito é um detalhe que chama a atenção. “Ações como essa são essenciais para que os produtores se sintam apoiados e encorajados a investir no aprimoramento contínuo e na qualidade de seus produtos, buscando um crescimento sustentável e melhor posicionamento de mercado. Na visita, os participantes puderam perceber que, unidos pelo mesmo objetivo, temos condições para elevar a cachaça maranhense e para a conquista de novos espaços de mercado, explicou o gerente da Unidade de Negócios do Sebrae em Presidente Dutra, Allan Kennedy.
-