No Maranhão, o babaçu é um fruto que faz parte da história e da luta de muitas mulheres. Quebrar coco é mais do que tradição: é um ato de resistência, sustento e transformação. Nos quintais das comunidades quilombolas, como no Quilombo Boa Vista, em Rosário (MA), o coco babaçu se revela como símbolo de sabedoria ancestral e motor de inovação. É dele que surgem alimentos, memórias e agora, novos caminhos de geração de renda.
De 14 a 17 de abril, a comunidade recebeu mais uma etapa do treinamento em aproveitamento integral de produtos de origem vegetal, promovido pelo Sebrae em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar. O curso teve como foco a diversificação dos produtos derivados do babaçu, ampliando o conhecimento técnico e fortalecendo as atividades produtivas da comunidade, com destaque para o uso do mesocarpo, extração de leite e do óleo na produção de alimentos e produtos de limpeza.

O trabalho integra uma série de ações que o Sebrae desenvolve no quilombo desde 2022, por meio de cursos, capacitações e consultorias voltadas ao fortalecimento do empreendedorismo no povoado. A partir dessas iniciativas surgiu o grupo Sabor e Arte, hoje formado por 23 mulheres da comunidade, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das famílias a partir do aproveitamento do babaçu.
O grupo começou produzindo bolos e biscoitos a partir do mesocarpo do coco, e hoje está diversificando seus produtos aumentado seu portfólio para 13 produtos, entre eles pasta de limpeza, óleo artesanal, doce de leite e até leite condensado feito com o leite extraído do babaçu. “A gente começou com um biscoito do mesocarpo do babaçu, e hoje já temos até leite condensado. As pessoas estão procurando os nossos produtos, e isso mostra que estamos no caminho certo. É gratificante ver que nossa comunidade pode mais”, afirmou Maria da Paz, membra do grupo e participante do treinamento.

Para Rosa Gaspar, liderança do grupo Sabor e Arte, o treinamento representa aprendizado técnico e a continuação de uma trajetória de conquistas. “Estamos muito felizes e agradecidas ao Senar e ao Sebrae, que seguem acreditando na nossa comunidade e nos apoiando. A cada curso, a gente descobre novas possibilidades com o babaçu. É emocionante ver nossos produtos, nossa comunidade e produção sendo valorizada. Só temos gratidão a Deus, às instituições e a todos que enxergam o nosso potencial. Estamos colhendo os frutos de uma luta traçada com união e dedicação de mulheres valentes do nosso Quilombo”, celebrou.
O babaçu tem papel central na vida das comunidades quilombolas maranhenses. É uma fonte de alimento, renda e conhecimento tradicional. Da casca ao miolo, tudo é aproveitado. Esse uso integral movimenta a economia local, preserva a cultura e valoriza o trabalho das mulheres que transformam o fruto com as mãos e com a sabedoria herdada de gerações.

A proposta da capacitação é mostrar às quebradeiras de coco como os saberes locais podem ser potencializados com técnicas adequadas, agregando valor à produção artesanal e criando oportunidades reais de geração de renda. Segundo a instrutora Maria Luz, do Senar, o objetivo da capacitação é ampliar o conhecimento sobre o aproveitamento integral do babaçu. “Este treinamento voltado ao uso de produtos de origem vegetal, com foco no mesocarpo, leite e no óleo do babaçu. Esses elementos têm grande potencial e vêm ganhando destaque, tanto na área da alimentação quanto na produção de itens de saboaria artesanal. A proposta é mostrar que, com técnicas acessíveis, é possível transformar esses insumos em produtos com valor agregado e potencial de mercado”, destacou a instrutora.
O gerente regional do Sebrae na Unidade Lençóis Munim, David Amorim, destacou que a ação faz parte de uma estratégia mais ampla de fortalecimento da produção local. “Essa é mais uma iniciativa do Sebrae aqui na comunidade de Boa Vista, em Rosário, onde estamos atuando junto ao grupo Sabor e Arte de mulheres empreendedoras com foco na diversificação de produtos. Em parceria com o Senar, estamos implementando ações que fazem parte de um catálogo de oportunidades para o território, valorizando o que já é produzido aqui. O Sebrae tem como propósito incentivar a produção agroindustrial e artesanal, criando caminhos reais de geração de renda e ampliando as possibilidades para os pequenos negócios da região”, detalhou o gerente.

Rosa Gaspar, liderança ressalta que o momento é de reforçar o sentimento de pertencimento, de conquista e valorização do trabalho coletivo. “Ver tudo isso acontecendo na nossa comunidade é uma vitória para todas nós. Cada capacitação, cada novo produto que conseguimos desenvolver, é resultado de muita dedicação e da parceria com quem acredita no nosso potencial. O babaçu sempre esteve presente na nossa vida, mas agora ele também representa novas oportunidades. O que antes era só para o nosso consumo, hoje está nos fazendo ganhar o mundo. E isso nos enche de orgulho”, afirmou.