ASN MA
Compartilhe

‘Encontro de Negros’ promove integração e troca de experiências entre comunidades quilombolas no Maranhão

Evento reuniu 22 comunidades quilombolas para discutir Afroturismo como ferramenta para o desenvolvimento das comunidades tradicionais.
Por Assessoria de Comunicação e Eventos
ASN MA
Compartilhe

Longe dos centros urbanos, mas nunca distantes da luta por direitos historicamente subtraídos e pela preservação da identidade, os quilombolas constroem trajetos de resistência e esperança na Baixada maranhense. No último final de semana, a comunidade de Bitiua, território quilombola localizado no município de Bacuri/MA, vivenciou o Encontro de Negros, reunindo 22 comunidade para discutir políticas públicas e ações afirmativas das próprias comunidades, que promovam o desenvolvimento associado à preservação de tradições ancestrais. O evento teve o apoio das prefeituras de Bacuri e São Luís, do Sebrae e Tribunal de Justiça do Maranhão – TJ/MA.

Encontro promoveu a troca de experiências entre as comunidades participantes.

Com o tema ‘Afroturismo e o desenvolvimento das comunidades tradicionais’, o encontro resulta no fortalecimento das comunidades, através do conhecimento, da cultura e de uma reflexão sobre a importância da luta por direitos e do protagonismo do povo preto, que na região, sobrevive amparado pela história e tradições, em territórios onde se destacam belezas naturais e uma série de atrativos turísticos com potenciais que, trabalhados da forma correta, podem gerar melhoria de vida para essas povoações.

“Somos um povo forte, que não se abate. Com o fortalecimento de nossa comunidade, só temos a ganhar, temos, especialmente a oportunidade de continuar crescendo, de seguir nos valorizando. Já sofremos tanto; passamos por tanta coisa, tanto preconceito e antes a gente se encolhia e deixava acontecer; mas hoje, com tudo o que a gente vem aprendendo e desenvolvendo, não deixamos mais! Hoje, a gente luta e vai continuar lutando. Esse Encontro é o primeiro de muitos que virão”, disse Ana Maria Mendes Oliveira, que é moradora do povoado há mais de 30 anos.

Participantes do Encontro elaboram roteiro turístico de suas comunidades.

Conhecimento – Na programação, o evento trouxe os paineis “Direitos e Deveres de comunidades quilombolas, com Marília Linhares Chagas, secretária Geral do Núcleo de Governança Fundiária do Tribunal de Justiça do Maranhão – TJMA; Afroturismo e o desenvolvimento das comunidades quilombolas tradicionais, com Saulo Santos, secretário de Turismo de São Luís; e Roteirização e Turismo de Base Comunitária, com a consultora Roseane Maia. Os participantes também tiveram exemplos de vivências e desenvolvimento da atividade turística na comunidade Entre Rios, que trabalha o turismo comunitário desde 2017 e já conseguiu colher bons frutos.

Maria Marta Silva Araujo é lavradora e moradora do povoado Bate Pé, também localizado em Bacuri/MA. Ela foi uma das integrantes da caravana do povoado que participou do Encontro. Para ela, esse é um bom início, visto que é necessário um trabalho de base sobre a importância da atividade e mudanças necessárias para trabalhar o turismo nessas localidades.“Vale à pena, porque a gente aprende cada vez mais. Para conseguirmos aplicar esse trabalho [Turismo de Base Comunitária] é preciso fazer essa conscientização para que as pessoas compreendam o que significa, como funciona. Temos muita coisa para apresentar, nossas tradições e estilo de vida, temos uma culinária incrível, essa é uma comunidade rica,” disse a lavradora.

No total, 22 comunidades remanescentes de quilombos de Bacuri e cidades vizinhas participaram do Encontro.

O Encontro de Negro acontecia todos os anos reunindo dezenas de comunidades para discutir sobre a luta contra a descriminação e o desenvolvimento das comunidades remanescentes de quilombos, com a pandemia os encontros deixaram de ser realizados, retornando agora em 2024 para dar continuidade ao trabalho de resgate e conservação das tradições e história.

“A gente procura dar capacitação para essas pessoas, através da Secretaria, buscando parcerias como é o caso do Sebrae, da Secretaria de Turismo de São Luís, para, de mãos dadas, a gente conseguir desenvolver esse trabalho. É bonito ver que a população acata as ideias e consegue absorver. O que eu espero é que daqui pra frente a gente consiga colocar isso em prática, para que esse turismo funcione dentro dessas comunidades,” disse o secretário de Turismo do Município de Bacuri, David Cunha de Azevedo.

Atuação do Sebrae em comunidade quilombolas

O Sebrae Maranhão atua em diversas frentes de trabalho para apoiar o desenvolvimento econômico e social das comunidades remanescentes de quilombos. No Litoral Ocidental Maranhense, o trabalho de consultoria especializada para o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária foi realizado em 2023 nas cidades de Apicum-Açu, Cedral, Cururupu e Guimarães e, em comunidades como Entre Rios, localizada em Cururupu.

Nova consciência: todos contribuem para a construção do conhecimento.

A instituição também tem uma forte atuação no agro com a oferta de capacitação, orientação e consultorias especializadas para a modernização e aumento da produção rural, valorizando cultivos locais, em diversos povoados da zona rural dos municípios atendidos, incluindo aí comunidades quilombolas. Mas o Turismo de Base Comunitária tem se destacado, como projetos e ações direcionadas para a formulação e promoção de roteiros, com atuação em áreas como divulgação, fortalecimento e fortalecimento das tradições e ancestralidade do povo preto maranhense.

Anacleto Ferreira é empreendedor e tem o apoio do Sebrae no projeto de Parque Aquático, localizado em Apicum Açu. Ele vem apostando firme no Turismo em sua propriedade, com reflexos para o município e região. Com o apoio do Sebrae, Anacleto tirou do papel a ideia do empreendimento e hoje já vislumbra horizontes cada vez mais promissores.“Precisamos que todos aprendam como fazer, como e em que áreas e produtos investir, como valorizar o nosso solo. Quando o Sebrae vem e passa essas informações, aí tem um avanço. Já conseguimos fazer o nosso Cadastur, formalizamos o MEI e tivemos a consultoria do Sebrae para dar continuidade ao projeto do Bethel Park. Eu estou muito animado, porque já vejo o ambiente ampliado, que vai trazer não só o desenvolvimento financeiro para mim, mas para minha comunidade. Já recebemos visitas de estrangeiros e de pessoas da região e isso é maravilhoso,” contou Anacleto.

Anacleto Ferreira, participante do Encontro de Negros em Bitiua.

Evento Inspirador – O evento serviu como inspiração para outras comunidades quilombolas da região. A iniciativa demonstrou que, através da união e da organização, é possível promover o desenvolvimento e a valorização da cultura afro-brasileira. Como resultado desse encontro, metas foram traçadas e representantes escolhidos para encabeçar as próximas ações.

  • Agricultura
  • Cultura
  • Empreendedorismo
  • População Negra
  • Quilombolas
  • Quilombos
  • Remanescentes de Quilombos
  • Sebrae
  • Turismo