A Associação de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis de Açailândia (Ascamarea) inaugurou seu primeiro galpão estruturado para triagem e processamento de resíduos recicláveis em Açailândia, no sudoeste do Maranhão. A nova instalação representa uma mudança histórica para os catadores, que durante anos trabalharam expostos ao sol, à chuva e às condições insalubres do antigo lixão. A iniciativa também marca o fortalecimento da coleta seletiva na cidade, alinhada às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, do Ministério do Meio Ambiente.
A Associação, criada em 2016 com apoio do Ministério Público e do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, atua hoje como referência local na reciclagem. Negócios ligados ao reaproveitamento de resíduos têm crescido nacionalmente e gerado impactos diretos na renda de famílias que vivem da coleta. No Maranhão, a cadeia da reciclagem ainda possui grande potencial de expansão, especialmente em municípios que começam a estruturar galpões e rotas regulares de coleta.
Com a inauguração, os catadores deixam de trabalhar de forma dispersa e passam a atuar de maneira organizada, com prensas, máquinas e espaço adequado para separação e comercialização dos materiais. “Antes era cada um por si. A gente juntava o material no sol quente, na chuva. Agora vai melhorar muito, porque vamos trabalhar juntos, com equipamentos que facilitam e aumentam nossa renda”, contou a associada Maria Francisca Bina Silva, de 37 anos, que há cinco anos vive da reciclagem após enfrentar dificuldades para conseguir emprego formal.

Segundo a presidente da Ascamarea, Antônia da Silva, o galpão é resultado de uma luta que começou há quase uma década. Ela explica que o espaço permitirá uma triagem mais eficiente, evitando materiais úmidos ou danificados, o que eleva o valor de venda dos recicláveis e reduz perdas. “É motivo de grande satisfação. É algo extraordinário para quem trabalhava no lixão. Agora teremos sombra, equipamentos adequados e condições dignas de trabalho”, afirma.
Além das melhorias estruturais, a associação está investindo em formação. Muitos catadores, como Maria e o marido dela, participaram de cursos de gestão oferecidos pelo Sebrae. A capacitação tem focado no controle financeiro, organização da produção e fortalecimento do modelo coletivo de trabalho, fatores que influenciam diretamente o preço final dos resíduos e a estabilidade da renda.
O Sebrae entrou em parceria com a Ascamarea oferecendo diagnósticos e consultorias voltadas para a legalização, gestão financeira, recursos humanos e articulação estratégica com empresas locais, também aproximou a associação da classe empresarial, estimulando práticas responsáveis de descarte e fornecimento de material reciclável.
Impacto direto na organização e na geração de renda
Para Breno Soeiro, gerente do Sebrae em Açailândia, o galpão marca um ponto de virada para a dinâmica da reciclagem no município. Ele explica que a estrutura permite que os catadores deixem o ambiente degradante do lixão e passem a executar suas atividades em condições adequadas, com processos padronizados e mais produtivos. “O galpão será fundamental para a organização. Eles vão iniciar atividades como a prensagem e comercialização dos recicláveis, algo que antes era inviável”, afirma.
Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que o Brasil recicla menos de 5% dos resíduos sólidos urbanos, apesar de gerar cerca de 82 milhões de toneladas ao ano. Em municípios onde a coleta seletiva é organizada e onde há galpões estruturados, a renda média dos catadores tende a dobrar, segundo relatórios federais sobre inclusão produtiva.

Em Açailândia, a expectativa é que a triagem no galpão reduza perdas, aumente a qualidade dos materiais e permita contratos mais estáveis de venda. Com isso, a associação espera ampliar o número de famílias beneficiadas e consolidar uma operação permanente, que dialogue com políticas municipais de resíduos.
“Aprendemos muito. O Sebrae nos ajudou a trabalhar unidos, a planejar melhor e entender como funciona um negócio de verdade”, afirma a presidente Antônia destacando como o apoio do Sebrae tem contribuído para essa transição e ressalta que o trabalho deixou de ser individual e passou a seguir princípios de organização coletiva.
Para os associados, a mudança representa mais do que ganho financeiro: simboliza dignidade. “É tudo para mim e para minha família. É superação. Ter um lugar seguro muda tudo, dá qualidade de vida”, concluiu Maria Francisca.

