Qual foi a última vez que você parou para admirar as estrelas? A vida cotidiana cada vez mais corrida nos priva desses momentos. Em Grajaú, cidade no centro-sul do Maranhão, a professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Daniely Gaspar, tem convidado a comunidade a tirar um tempo para admirar o céu e aprender mais sobre os astros em conexão com o universo.
Com formação em física, a astronomia sempre despertou a sua curiosidade. Em 2018, quando a professora Danielly se deparou com um telescópio que não estava sendo utilizado, ela se propôs ao desafio de ministrar a disciplina de Introdução à Astronomia. Para encerramento da disciplina, foi realizada a primeira Noite de Astronomia da UFMA, no campus de Grajaú. O evento foi um sucesso!
Assim nasceu o “Astronomia no Sertão”, projeto coordenado por Danielly e o marido, professor Genilson Martins, que trabalha no Instituto Federal do Maranhão (IFMA), também em Grajaú. O grupo se dedica à divulgação científica por meio da Astronomia, focando especialmente comunidades indígenas e da zona rural. “O Astronomia no Sertão visa despertar o interesse e o gosto pela ciência, especialmente em lugares remotos onde o acesso à educação científica ainda é limitado”, explica Daniely.
Desde então, o projeto vem atraindo atenção e promovendo observações em Grajaú e em outras cidades, além da observação na própria universidade e em praças públicas. O projeto desenvolve desde 2022, o Astrocamping, uma experiência diferenciada que se articula com o turismo, em uma modalidade bastante que atrai aficionados no mundo inteiro – a experiência de contemplação astronômica.
Ela conta que essa ideia apareceu com uma aula de campo na Cachoeira do Morcego, (atrativo turístico de Grajaú). “Depois disso, a gente começou a promover esses acampamentos. Primeiro, reunindo amigos, pessoas mais próximas; a gente acampava, fazia toda uma programação e, então, descobrimos que isso é o turismo astronômico”, explica.
Inova Amazônia
Em 2023, o projeto denominado “Estrelas da Floresta” foi contemplado para participar do Inova Amazônia, no módulo Ideação. A proposta visa promover turismo astronômico para aldeias indígenas, proporcionando experiências únicas e valorizando a cultura local.
“O Inova Amazônia foi incrível; foi um programa em que eu aprendi muito, que abriu muito a minha mente para várias coisas; eu amei participar, gostei muito, sou outra pessoa após esse programa”, relata a empreendedora.
A proposta trabalhada durante o Inova Amazônia teve inspiração no evento de observação do eclipse solar realizado para turistas na aldeia Arymy, localizada em Grajaú. Na ocasião, além da observação dos astros, o evento contemplou a troca de saberes ancestrais de astronomia com os povos originários.
“Apesar de o Maranhão ser um estado riquíssimo em cultura indígena, ter uma das maiores populações de várias etnias, a gente não tem a exploração dessa modalidade de turismo. Não conheço nenhuma empresa que faça esse tipo de exploração. Isso torna o nosso projeto único e atrativo para a captação de mais investimentos e mais divulgação por ser um projeto tão bom, belo e tão importante para a geração de renda para as comunidades envolvidas”, reforça.
Vencendo barreiras
Com a experiência, a professora Daniely ressalta que ainda é um desafio para uma mulher liderar um projeto assim, ainda mais dentro da academia, que ainda é bastante fechada para iniciativas empreendedoras no campo científico.
Ela reconhece a necessidade de mudança de mentalidade e destaca o papel do Sebrae em incentivar a aproximação entre academia e empreendedorismo, por meio das ações de Educação Empreendedora e também de Inovação. Além da divulgação científica, o projeto busca o desenvolvimento sustentável, respeitando os aspectos social, ambiental e econômico. O apoio financeiro é essencial para expandir o impacto e capacitar ainda mais as comunidades.
“O empreendedorismo seria uma forma de a gente ajudar e captar mais recursos para continuar desenvolvendo. E aí, eu acho que essa mentalidade tende a mudar e o Sebrae é um grande responsável por isso, por estar fazendo essa mentalidade mudar. E eu acho que todos ganham, tanto a academia, quanto a comunidade e as pessoas”, enfatiza ela, esperançosa por mudanças em curto prazo.
Refletindo sobre o papel da mulher no cenário, a professora reforça a necessidade de a mulher liderar ocupar esses espaços e confia que o Dia Internacional da Mulher seja um marco de reconhecimento das conquistas das mulheres, mas também sirva para inspirar novas realizações e reconhecer o poder transformador do empreendedorismo e da ciência.
“Apesar dos desafios, acredito no potencial das mulheres para liderar iniciativas de empreendedorismo e na ciência. Devemos buscar qualificação e acreditar em nosso poder de transformação”, destaca Daniely, em celebração à data.