O sorriso largo ao receber cada cliente não é apenas simpatia: é reflexo de uma história marcada por superação. Há seis anos à frente de uma loja de materiais de construção em Estreito (MA), Lilian Campos Maciel aprendeu a transformar crises em movimento. Administradora de formação, ela viu o negócio crescer mesmo quando tudo parecia indicar o contrário. De acordo com pesquisa feita pela a empreendedora, o panorama é de desenvolvimento, no último ano, a empresa avançou 6,5% e já projeta crescer mais 8% em 2026. “Na dificuldade, sempre existe uma oportunidade. A gente só precisa estar disposto a enxergar”, resume Lilian.
Natural de Goiânia (GO), Lilian chegou à cidade de Estreito (MA) acompanhando a família e decidiu ficar. Depois de rodar o Brasil com o marido, escolheu a cidade que faz divisa com o Tocantins na região sudoeste do Maranhão para recomeçar do zero. “Aqui a gente teria mais apoio e condições de começar a vida”, conta a empresária. Sem experiência no comércio, abriu a loja Super Ação em julho de 2019, poucos meses antes do anúncio da pandemia da COVID-19, que abalou o mercado mundial e mudou os rumos da sociedade que precisou se adaptar a um novo modelo de vida. Situação que não foi diferente em Estreito, Lilian percebeu que para não fechar precisaria mudar o modelo de atendimento às pressas, o formato da loja foi reinventado e aprender virou rotina diária.
Crises que moldaram a empresária
A pandemia foi o primeiro abalo — silencioso, inesperado e coletivo — mas não foi o único. Anos depois, quando a cidade começava a respirar algum fôlego, veio um novo choque: a queda da ponte Juscelino Kubitschek a principal ligação entre o Maranhão e Tocantins por ser um ponto crucial nas rodovias BR-010 e BR-226, em dezembro de 2024. As rotas foram interrompidas, a economia sentiu o impacto imediato e o clima nas ruas lembrava um velório coletivo. Lilian reuniu a equipe e entendeu que não havia espaço para paralisia. Deixou a burocracia de lado, saiu de dentro da loja e foi ao encontro do cliente. Bateu em portas, sentou à mesa, negociou. Transformou o campo de batalha em campo de possibilidades.
“A gente não enxergava um cenário bonito, pelo contrário, parecia tudo muito catastrófico. Eu comecei a ler sobre como outras cidades e empresas enfrentaram grandes tragédias e entendi que a gente precisava escolher: ou ficar chorando ou aprender a vender lenço. Eu até brincava com a equipe dizendo isso. Foi ali que percebemos que só havia um caminho: nos reinventar”, contou.

No auge desse movimento, o desafio mais íntimo chegou sem aviso: o diagnóstico de câncer de mama. Entre sessões de quimioterapia, viagens longas e dias de exaustão, Lilian seguiu trabalhando, e contou com tom de quem aprendeu a encarar os desafios com bom humor que mesmo com lencinho na cabeça cobrindo a “careca” causada pelo tratamento, nunca perdeu o propósito. “A gente não vende só material. A gente constrói sonhos”, repetia, como quem precisava lembrar a si mesma do porquê de continuar. A doença não interrompeu o caminho, redesenhou o olhar. Trouxe mais humanidade, mais escuta, mais sentido. Cada crise exigiu dela uma nova versão de si mesma. E, a cada reinvenção, a liderança se fortaleceu. Não pela força, mas pela capacidade de seguir, mesmo quando tudo parecia pedir pausa.
Afinal, pausar refletia também no futuro da equipe que foi fundamental todas as vezes que foi necessário uma mudança de rota e uma reinvenção de posicionamento. “Quando a gente abriu, era tudo muito pequeno. Começamos com apenas três funcionários. Hoje somos dez. No momento mais crítico, com a queda da ponte, eu cheguei a dar férias para parte da equipe, porque o medo era real. Mas foi justamente ali que a gente se reorganizou, mudou o jeito de atender, fomos para a rua. Aos poucos, trouxe todo mundo de volta e ainda contratamos mais. No início achamos que íamos perder, mas acabamos crescendo. A crise mostrou que, juntos, a gente era mais forte”, diz orgulhosa.
Quando apoio vira estratégia
Nos momentos mais decisivos da trajetória, Lilian encontrou no Sebrae Maranhão o suporte necessário para transformar intuição em estratégia. Por meio de consultorias em gestão financeira, fluxo de caixa, formação de preços e organização de processos, ela aprendeu a ler os números do negócio e a entender o comportamento do cliente. “O Sebrae foi um braço direito. Foi ali que eu aprendi a olhar para os dados, a enxergar o que vendia e a mudar a cultura da empresa”, afirma. Em um estado onde 95,2% das empresas ativas são micro e pequenos negócios e onde o comércio e a construção civil lideram a geração de empregos em 2025, o acesso à orientação técnica se torna decisivo para a sobrevivência e o crescimento. A experiência de Lilian reflete esse cenário: informação, planejamento e apoio contínuo fizeram da crise um ponto de virada.
“Eu aprendi que a gente precisa estudar o tempo todo e se atualizar, porque o mercado muda e o cliente muda junto. O Sebrae é esse parceiro que abre o nosso horizonte, que faz a gente enxergar além da rotina da loja e pensar de forma mais estratégica. Participar da Feira de Negócios como expositora, foi um momento único. Não foi só vender, foi trocar experiências, buscar inspiração e entender que inovar é possível, mesmo em uma cidade pequena”, ressaltou a empresária que esteve como expositora durante a Feira de Negócios Sebrae realizada em novembro de 2025 na cidade de Estreito, evento que atraiu mais de 3 mil participantes.

Reconstrução, crescimento e futuro
A entrega da ponte de Estreito, no dia 22 de dezembro de 2025, restabeleceu o tráfego da rodovia, que é estratégica para a mobilidade, o abastecimento e a integração econômica da região. Com a retomada do fluxo logístico, o comércio local volta a respirar, impulsionado por ações de apoio ao empreendedorismo, capacitações e consultorias promovidas pelo Sebrae na região, que têm fortalecido a gestão dos pequenos negócios em todos momentos, tanto no momento de crise quanto no período pós crise. Em um cenário de reconstrução, a expectativa é de retomada gradual das atividades e de um ambiente mais favorável para investimentos e geração de renda.
Inserida nesse novo momento, Lilian Campos Maciel projeta crescer 8% em 2026, resultado que reflete planejamento, reorganização interna e confiança no futuro. À frente de uma equipe majoritariamente feminina, ela enxerga na reconstrução da cidade e na maturidade do negócio a chance de avançar ainda mais. “Às vezes uma porta fecha, mas duas se abrem. É na dificuldade que a gente encontra o pulo do gato”, afirma, com a serenidade de quem transformou cada recomeço em caminho.

