Nesta terça-feira (21), teve início a programação técnica do Integra Chapadas, evento realizado em Carolina (MA) que reúne representantes de 11 territórios de chapadas brasileiras para discutir inovação, sustentabilidade e protagonismo no turismo de natureza e de experiência.
A programação foi iniciada com a palestra “Chapadas do Brasil: inovação, sustentabilidade e protagonismo no turismo de natureza e experiência”, ministrada por Jeanine Pires, estrategista de vozes e destinos e ex-presidente da Embratur.
Em sua fala, Jeanine propôs uma mudança de postura: do turismo de consumo para o turismo regenerativo. “O turismo não é mais sobre propriedade, mas sobre pertencimento. É uma nova forma de se relacionar com os territórios e com as pessoas”, destacou.

Jeanine encerrou sua participação com uma mensagem de forte simbolismo. “Nós somos o território. Aqui, na Chapada das Mesas, há algo muito importante acontecendo: o protagonismo das chapadas e de lugares ainda pouco conhecidos, mas que têm na natureza, na experiência e na conexão a força do turismo regenerativo e o apoio à agenda climática brasileira”, completou.
Vivências e trocas entre as chapadas brasileiras – O encontro tem sido espaço de troca entre territórios, experiências e visões de futuro. Para Aristeia Avelino do Nascimento, empreendedora da Chapada dos Veadeiros (GO), participar da segunda edição do Integra Chapadas tem sido transformador. “Vim para essa troca de vivências e saberes e saio com muito aprendizado. É um momento de partilha e de fortalecimento entre quem vive e faz o turismo acontecer nas chapadas”, ressaltou.
Durante o dia, os painéis temáticos apresentaram experiências de turismo sustentável e de base comunitária, alinhadas aos cinco eixos prioritários do encontro: Desenvolvimento territorial sustentável; Turismo além das belezas naturais; Parques Nacionais e Geoparques; Sistema de Gestão de Segurança (SGS); Combate a incêndios e conscientização ambiental.

Dominga Natália Moreira, representante da comunidade Kalunga, em Cavalcante (GO), destacou o trabalho com turismo de base comunitária, mostrando como o território quilombola tem estruturado atividades de visitação integradas à cultura local.
“Hoje trabalhamos com três atrativos naturais — as cachoeiras Santa Bárbara, Capivara e Candaru —, com a culinária feita a partir da agricultura familiar e com produtos do Cerrado. Também temos uma lojinha de produtos naturais e celebramos nossas tradições. O mais importante é o cuidado com o que já existe: respeitar, preservar e usar de forma consciente o nosso território”, salientou.
Outro painel contou com o relato de Francisco Magalhães, gerente regional do Sebrae na Chapada da Ibiapaba (CE), que apresentou o trabalho de reorganização do turismo na região após o fechamento do bondinho do Parque Nacional de Ubajara.
“Trabalhamos o potencial local, criamos produtos turísticos e fortalecemos a governança. Hoje, a Ibiapaba recebe mais de 230 mil visitantes por ano e se tornou referência em turismo sustentável no Ceará. Uma chapada de sucesso tem liderança, tem serviços e tem visão de futuro”, disse.

A visão dos empreendedores – Além das palestras e painéis, os sabores e saberes das chapadas também estiveram presentes na feirinha de produtos regionais, que encantou os visitantes com aromas e sabores únicos.
Entre os destaques, o café especial da Chapada Diamantina (BA) chamou atenção pelo aroma marcante e pela história por trás de cada grão. A produtora Tadeane Matos, quarta geração de cafeicultores da região, destacou o café como símbolo de identidade e desenvolvimento local. “O café da Chapada é uma experiência — doce, natural e única”, afirmou.
Ela também ressaltou o papel do Sebrae na profissionalização dos produtores e na conquista da Indicação Geográfica da Chapada Diamantina, que reconhece o potencial do território. “Sem o Sebrae, não teríamos chegado tão longe. Eu costumo dizer que sou um produto do Sebrae”, completou.
Já Daniela Andrade, empreendedora maranhense, apresentou sua linha de cosméticos naturais com ativos do Cerrado, defendendo a sustentabilidade também no segmento da beleza, à medida que cresce o consumo consciente.
“A aceitação tem aumentado muito. As pessoas estão se conscientizando sobre o impacto ambiental e buscando produtos mais sustentáveis. Participar do Integra Chapadas é uma oportunidade de aprendizado e valorização do que o nosso território pode oferecer em matéria-prima, saúde e bem-estar”, afirmou.
Ela destacou, no entanto, que a produção local ainda enfrenta desafios, como o acesso a insumos nativos. “Aqui na Chapada das Mesas há árvores de barbatimão, por exemplo, mas ainda não conseguimos ter acesso a elas de forma estruturada. Seria importante fomentar essa produção local para fortalecer nossa cadeia produtiva e gerar novas oportunidades”, acrescentou.
A programação do Integra Chapadas segue até quarta-feira (22), com grupos de discussão, visitas técnicas e o encerramento marcado pela construção coletiva do Manifesto das Chapadas, documento que reúne compromissos e diretrizes para o fortalecimento do turismo sustentável nos territórios.