Matinha, município localizado na Baixada Maranhense, lidera o ranking estadual de produção de pescado, segundo dados do Anuário Brasileiro da Piscicultura PEIXE BR 2024 – veículo oficial da Associação Brasileira da Piscicultura. Esse sucesso não é por acaso. O investimento em conhecimento e tecnologia tem contribuído fortemente para elevar a produtividade e a lucratividade da atividade, transformando a região em um polo de referência no estado.
Um exemplo é o piscicultor José Raimundo, que viu seu negócio crescer exponencialmente nos últimos anos. José Raimundo, que antes trabalhava com apenas dois tanques de peixes e produzia cerca de 6 toneladas por ano, viu a produção saltar para 25 toneladas anuais após adotar novas tecnologias e práticas de manejo. Boa parte do sucesso ele credita a uma parceria com o Sebrae, por meio de consultoria técnica especializada do programa Sebraetec.
“Graças a Deus, o Sebrae abriu portas para gente com capacitações, cursos e acompanhamento técnico, que ensinaram o manejo do peixe como a gente precisava. E deu muito certo”, conta o piscicultor. Com a parceria do Sebrae desde 2016, ele expandiu a produção para cinco tanques, passando a utilizar técnicas modernas de criação, alimentação e de manejo do pescado. E os impactos desse passo, já são visíveis na propriedade.
Inspiração para o trabalho
Há mais de dez anos atuando no ramo da piscicultura, José Raimundo iniciou-se no ramo por influência do pai. Juntos, eles escavaram os primeiros tanques, percebendo o potencial dessa cadeia produtiva muito lucrativa e com grande potencial na sua região. José e sua família moram no povoado Cajá, situado no município de Matinha/MA. Na localidade, as condições climáticas e a abundância de recursos hídricos reforçam o potencial latente da região para a criação do pescado.
“Começamos porque tínhamos a ideia de que era algo lucrativo, mas logo aprendemos que precisávamos de ajuda, porque não sabíamos nada sobre criação de peixes. Então buscamos a ajuda de quem podia fornecer o que a gente precisava. O Sebrae abriu portas, eu nunca imaginava que eu saberia tocar meu próprio negócio de criação de peixe, conseguir ter a sabedoria de administrar e entender sobre tudo isso. Hoje eu sei trabalhar na água, medir PH, fazer transparência, hoje a gente faz sozinho por conta da gente, tudo graças aos cursos e consultorias,” relatou o empreendedor.
Resultados – Esforço e dedicação foram fundamentais para que José Raimundo alcançasse resultados tão expressivos em pouco tempo. A criação de peixes hoje ocupa uma área de 40 hectares, em um total de 6 tanques, onde são criadas espécies como Tambatinga, Curimatá, Pial, Panga e Matrinxã.
O faturamento, antes em torno de R$ 60 mil por ano com lucro de R$ 20 mil, alcançou, em 2024, a marca de R$ 200 mil. O lucro estimado gira por volta de R$ 100 mil. “A produção aumentou significativamente, mas o mais importante é a otimização dos lucros. A tecnologia e o conhecimento me permitiram reduzir custos e agregar valor ao produto”, avalia o produtor.
José Raimundo trabalha com uma experiência de produção coletiva. Ele faz parte de um grupo de 15 produtores dos povoados de Cajá, Enseada Grande e Santa Maria, que enxergaram na cadeia produtiva do pescado no município de Matinha/MA uma alternativa viável para o desenvolvimento econômico da Baixada. A região, com abundância na oferta de água, tem experimentado um salto no crescimento da piscicultura, diferenciando-se pelo volume de produção, qualidade e diversidade da oferta.
Para continuar crescendo os piscicultores contam, ainda, com o incentivo do Governo Estadual, através do PAA – Programa de Aquisição de Alimentos. O PAA foca a agricultura familiar, gerando alternativas de comercialização para a produção rural, o que também contribui com o faturamento de negócios como a piscicultura.
Juntos, os produtores contabilizam cerca de 100 toneladas/ano em volume total de produção, passando a gerar emprego, renda e a movimentar parte significativa da economia do município. Esses avanços já impactam o lugar onde vivem, a começar pela infraestrutura das moradias que veio mudando ao longo dos últimos anos. Hoje, as habitações já mostram sinais de conforto e segurança. As estradas de acesso ao município, hoje melhoradas, também é uma conquista do grupo junto ao poder público.
“O sucesso da piscicultura em Matinha, tem ajudado a impulsionar trajetórias como a de José Raimundo e demonstra o potencial da atividade, quando aliada à inovação e à capacitação”, explica o analista do Sebrae, Daniel Pereira. “O investimento em tecnologia e conhecimento tem se mostrado um caminho eficaz para o desenvolvimento da atividade, impactando positivamente a economia da região”, prossegue o analista.
Esses impactos se estendem para além dos resultados econômicos e se expressam em uma mudança de mentalidade com relação às possibilidades de expansão dos negócios da piscicultura com base na inovação.
“Já percebemos uma mudança significativa na vida dos produtores. Muitos saíram da linha da pobreza para uma vida mais confortável, graças aos negócios. Os resultados são muito bons, principalmente em razão da produção em larga escala que vemos no município. O que pretendemos agora é estimular outras opções que garantam maior lucratividade, não só com a venda do produto in natura, mas fazer atentando para o beneficiamento do pescado. Um exemplo, a comercialização do filé embalado, que é uma opção de produtos derivados do pescado, de alto valor agregado”, salientou Daniel Pereira.
Crescimento no horizonte de um futuro que já é agora
Como todo bom empreendedor, José Raimundo quer sempre ir além, embora tenha aprendido que cada passo deve ser estudado com cuidado para não prejudicar o que já se alcançou. “Sabedoria e conhecimento são coisas que andam juntas. O empreendedor tem que ser ousado. Mas precisa ser cuidadoso em cada passo”, explica.
Pensando em melhorias, ele acaba de adquirir um caminhão “novinho em folha”, para transporte do pescado. A ideia é não precisar da figura do atravessador, otimizando as vendas para o consumidor final. Mas, os planos para o futuro são ainda mais ambiciosos. O mais urgente, é o aumento da área de criação, com a escavação de três novos tanques. Ele também planeja investir no beneficiamento, com a criação de uma agroindústria para a produção de subprodutos como filés, buscando novos nichos de mercado.
“Quero agregar ainda mais valor ao produto e oferecer novas opções aos consumidores”, afirma o piscicultor”. Ciente de ter-se tornado uma referência de empreendedorismo e visão de futuro no setor da piscicultura, José Raimundo quer também influenciar os jovens de Matinha a permanecerem no município.
“Hoje, eu busco incentivar os mais jovens a investirem na piscicultura, a trabalhar conosco e também a apostarem na atividade para fortalecer o grupo e engrandecer ainda mais essa cadeia produtiva, acreditando na própria força e na possibilidade de construção de um futuro de mais prosperidade aqui mesmo, na nossa terra”, concluiu José Raimundo.
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