Em um tempo marcado pela pressa e pela distância do campo e da natureza, o turismo surge como uma forma de reconexão. Reconexão com a terra, com os alimentos, com os saberes e com histórias que seguem vivas no interior do Maranhão. No Polo Serras Guajajara, Timbira e Kanela, essa reconexão acontece a partir da produção rural transformada em experiência, onde o visitante não apenas observa, mas vivencia o cotidiano de quem produz.
A proposta foi colocada em prática durante a expedição, organizada pelo Sebrae Maranhão em parceria com as secretarias de turismo, Instância de Governança Regional do Polo Serras Guajajara, Timbira e Kanela (IGR) e Conselhos Municipais de Turismo (Comtur), que percorreu propriedades rurais em Barra do Corda, Grajaú e Arame, revelando como o turismo pode caminhar lado a lado com a produção agrícola, o extrativismo e a gastronomia tradicional, fortalecendo economias locais e preservando modos de vida.
Uma profusão de sabores e saberes
Em Barra do Corda, a experiência acontece na propriedade do apicultor Wilson Melo da Melinative. O espaço com 14 hectares que hoje recebe visitantes de diferentes regiões do Brasil e até de outros países, é resultado de um trabalho de persistência e recuperação ambiental. Onde antes havia área de pastagem degradada, hoje há uma paisagem viva, com trilha ecológica que atravessam um açaizal com dois hectares dedicados à cultura, áreas de preservação, lagoas recuperadas e a produção de mel nativo, própolis e pólen.
“Eu sempre digo que aqui todo mundo vai encontrar as portas abertas, sem portão. Receber pessoas aqui é um orgulho. Esse açaí, por exemplo, foi mais de dez anos de insistência, quando quase ninguém conhecia. Hoje, na hora que colhe, já está vendido”, conta Seu Wilson, destacando também o reconhecimento internacional do mel produzido na propriedade, que despertou o interesse de pesquisadores e compradores de outros países.

Em Grajaú, a reconexão passa pela tradição familiar e pela força da mandioca. No povoado Remanso, a Casa de Farinha do Seu Tião é mais que um espaço de produção: é herança cultural, transmitida de geração em geração. Ali, o turismo permite acompanhar todo o processo artesanal da farinha, além de vivenciar um café da manhã preparado pela própria família, com produtos feitos no local.
“Essa produção é o que sustentou a nossa família. Hoje, receber visitantes aqui é muito gratificante. A casa está de portas abertas e a gente espera que isso traga mais oportunidades, não só para nós, mas para toda a região”, afirma Sebastião Borges de Sousa, o Seu Tião, que já recebeu capacitações do Sebrae para aprimorar a qualidade da produção.
A filha, Luciana Costa de Sousa, reforça o valor simbólico desse momento. “Essa casa de farinha é uma herança que veio do meu avô, passou para o meu pai e hoje continua com a gente. Poder mostrar nossa vivência e nossa cultura para quem vem de fora é muito importante. É a nossa história sendo valorizada.”
Sabores e afeto
Já em Arame, a experiência ganha sabor e afeto no Sítio Superação, onde Dina Ribeiro do Nascimento transformou o talento na cozinha em uma vivência gastronômica que encanta quem passa pela BR-006 entre Grajaú e Arame. O café da tarde servido no local reúne bolos, doces, e queijos. Além de compotas, conservas e temperos naturais, todos produzidos artesanalmente e disponíveis para compra.
“Eu sempre gostei de cozinhar. Quando fui organizando o espaço e as pessoas começaram a elogiar, pensei: por que não juntar uma coisa com a outra? Receber pessoas aqui é um sonho concretizado”, conta Dona Dina, que hoje vê no turismo uma nova oportunidade de trabalho e troca.
As experiências vivenciadas durante a expedição mostram que o turismo rural vai além da visita. Promovem encontros, ativam memórias e criam pontes entre o campo e a cidade. É nesse contato direto que nascem roteiros autênticos e cheios de identidade.

Trabalho continuado
Esse trabalho integra uma estratégia do Sebrae, que reconhece o turismo como vetor de desenvolvimento territorial. Por meio do acompanhamento da Rede de Agentes de Roteiros Turísticos, o Sebrae atua no mapeamento, levantamento e avaliação das potencialidades das propriedades, analisando a viabilidade de experiências que podem ser incorporadas aos roteiros, como trilhas, vivências produtivas e acompanhamento de processos de fabricação. No Polo Serras Guajajara, Timbira e Kanela, essa atuação tem sido fundamental para transformar a produção rural em oportunidades de turismo sustentável, geração de renda e valorização cultural.
Nesse contexto, a agricultura familiar ocupa papel central na dinâmica econômica local. Pequenos produtores são responsáveis não apenas pelo abastecimento alimentar, mas também pela preservação de saberes tradicionais, modos de fazer e práticas sustentáveis transmitidas entre gerações. A produção de alimentos como mandioca, mel, frutas e derivados artesanais sustenta famílias inteiras e representa uma importante estratégia de resistência e permanência no território.
Ao associar a agricultura familiar ao turismo, o Polo passa a enxergar essas atividades não apenas como produção, mas como experiência. Trilhas em áreas recuperadas, cafés da manhã com alimentos produzidos no local, vivências nos processos produtivos e a troca direta entre produtores e visitantes ampliam o valor simbólico e econômico dessas iniciativas. “O turismo rural surge, assim, como uma alternativa concreta de desenvolvimento territorial, capaz de gerar renda complementar, valorizar identidades locais e aproximar o visitante de um Maranhão que se revela longe dos roteiros convencionais”, ressalta André Veras, gerente da Unidade do Sebrae em Grajaú.

